RACIONAL: A peritonite bacteriana espontânea é complicação freqüente nos pacientes com cirrose e ascite, apresentando taxa de recurrência em 1 ano próxima de 70%. OBJETIVOS: Avaliar a prevalência da peritonite bacteriana espontânea em pacientes com ascite por hepatopatia crônica e o impacto da sua presença na sobrevida dos mesmos. PACIENTES/MÉTODOS: Foram avaliadas 1030 internações de pacientes com cirrose e ascite, tendo sido documentados 114 episódios de peritonite bacteriana espontânea em 94 pacientes. Em todos foi realizada paracentese com análise do líquido ascítico. O diagnóstico desta complicação foi estabelecido quando o número de polimorfonucleares do líquido de ascite fosse superior a 250 células por mm³. RESULTADOS: A prevalência da peritonite bacteriana espontânea foi de 11,1% e sua mortalidade de 21,9%. A infecção foi adquirida na comunidade em 61,4% e no hospital em 37,7%, sendo as taxas de óbito de 18,6% e 27,9%, respectivamente. Houve controle da infecção, documentado pela análise do líquido de ascite coletado por paracentese realizada 48 horas após o início da antibioticoterapia, em 91,1% dos episódios. Nestes casos a mortalidade foi de 16,7%. Nos casos em que a infecção não foi controlada, o óbito ocorreu em 80,0%. Em 22,3% da amostra foi documentado o uso do antibiótico profilático sem, no entanto, demonstrar haver diferença significativa quanto à mortalidade, quando comparados aos pacientes que não realizaram profilaxia. CONCLUSÕES: A peritonite bacteriana espontânea é infecção freqüente nos pacientes com ascite por hepatopatia crônica, com prognóstico reservado, principalmente na ausência de resposta precoce à antibioticoterapia.
BACKGROUND: Spontaneous bacterial peritonitis is a frequent complication that occurs in patients with cirrhosis and ascites and has a recurrence rate of 70% in 1 year. In addition, this infection determines a poor short and long-term prognosis and a shorter survival rate. AIMS: Evaluate the prevalence of spontaneous bacterial peritonitis in cirrhotic patients with ascites and the effect of its occurrence on the survival. PATIENTS/METHODS: One thousand and thirty admissions of patients with cirrhosis and ascites were reviewed and 114 episodes of spontaneous bacterial peritonitis were documented in 94 patients. The ascitic analysis was accomplished in all patients. The diagnosis of this infection was established when the ascitic fluid polymorphonuclear count was equal or above 250 cells mm3. RESULTS: The prevalence of this infection was 11.1% and the mortality rate 21.9%. Spontaneous bacterial peritonitis was community acquired in 61.4% and hospital acquired in 37.7%. The mortality rate was 18.6% and 27.9%, respectively. The infection resolved in 91.1% of the episodes by the analysis of ascitic fluid at 48 hours on antibiotics. The use of prophylactic antibiotics was documented in 22.3% of the episodes, but there are not significant differences on the mortality or type of bacteria isolated when comparing the patients with or without this treatment. CONCLUSIONS: Spontaneous bacterial peritonitis is a common complication in patients with cirrhosis and ascites and determines a worse prognosis, mainly when related with absence of initial response to antibiotics.